A Tradição Martinista emergiu na França do século XVIII durante um período de significativa expansão da investigação esotérica e filosófica. Ela começou com um sistema de pensamento filosófico. Algumas histórias remontam suas raízes ao Rosacrucianismo do século XVII, bem como em Constantinopla do século XI. O termo Martinismo, entretanto, não foi empregado até o final do século XIX e é um termo coletivo para o movimento como um todo.
Os fundamentos da tradição foram formados por Martinez de Pasqually (1724 – 1774). Diz-se que ele tinha ascendência espanhola, que nasceu em Grenoble, e que viajou amplamente na França. Ele era Mestre Maçom, católico praticante e estudioso da Kabbalah e da tradição judaica. Ele fundou uma escola oculta em Bordeaux e uma ordem conhecida como Elus Cohen. Numerologia, cosmologia e a natureza essencial divina do homem figuravam fortemente em seu pensamento. Sua filosofia incluía ritos teúrgicos (magia ritual) e um enfoque em habilidades ocultas que visavam promover o desenvolvimento espiritual. Seu único trabalho publicado conhecido é “Tratado da Reintegração dos Seres”. Pasqually morreu nas Índias Ocidentais.
Depois de sua morte, os templos Elus Cohen adormeceram, embora seus ensinamentos e doutrina continuassem a serem difundidos através do trabalho de seus pupilos, Jean Baptiste Willermoz (1730 – 1824) e Louis-Claude de Saint-Martin (1743 – 1803).
O principal enfoque de Jean Baptiste Willermoz era maçônico e ele implementou os ensinamentos dos Elus Cohen dentro do Rito maçônico da Estrita Observância.
O Martinismo, tal como praticado atualmente, é baseado no trabalho de Louis-Claude de Saint-Martin. Nascido em Touraine, ele originariamente foi educado em Direito, mas cedo se juntou a uma comissão no exército. Enquanto estava radicado em Bordeaux, ele conheceu Pasqually e, em 1768, foi iniciado entre os Elus Cohen. Saint-Martin se tornou secretário pessoal de Pasqually e deixou o exército em 1771. Ele se tornou cada vez mais incomodado com os rituais teúrgicos dos Elus Cohen e tentou orientar a Ordem por meio de sua própria filosofia de cristianismo místico. Uma vez que ele falhou nesse intento, então deixou os Elus Cohen.
O primeiro livro de Saint-Martin, “Dos Erros e da Verdade”, foi publicado em 1775 com o pseudônimo de “O Filósofo Desconhecido”, sob o qual todos seus trabalhos foram publicados. Ele foi fortemente influenciado pelos trabalhos de Jacob Boehme e traduziu muitos de seus trabalhos do alemão para o francês.
Não é certo que ele tenha fundado uma ordem de qualquer tipo. Existe evidência em suas cartas privadas de grupos se reunindo em pequenos círculos através da Europa e Rússia. Eles são algumas vezes conhecidos como Sociedade de Saint-Martin e aparentam terem se baseado em uma iniciação pessoal que conferiria a qualidade de Superior Desconhecido.
Depois da morte de Saint-Martin, seus discípulos carregaram a transmissão da iniciação; espalhando a doutrina do Filósofo Desconhecido e estabelecendo iniciados espalhados na Europa e Rússia. Os pupilos de Saint-Martin e Willermoz tinham opiniões muito diferentes sobre o que Pasqually havia desejado desenvolver e sobre o como realiza-lo. Isto levou ao desenvolvimento de três interpretações principais da tradição e do caminho da reintegração:
A tradição teúrgica de Pasqually e dos Elus Cohen;
A tradição maçônica de Willermoz que restringia a afiliação à homens;
O “Caminho Interno do Coração” de Saint-Martin com afiliação mais aberta. É essa terceira via que é a seguida pela Ordem Martinista Britânica (BMO – British Martinist Order).
No final da década de 1880, dois estudantes de medicina se conheceram e descobriram que tinham recebido a iniciação martinista de Saint-Martin por duas diferentes linhas de transmissão. Eles eram Dr. Gerard Encausse, também conhecido como Papus (1865 – 1916), e Pierre-Augustin Chaboseau (1868 – 1946). Trabalhando juntos e compartilhando as iniciações, eles consolidaram essas duas linhas. A Ordem Martinista Reformada foi fundada em Paris em 1891 com Papus como Grande Mestre. Chaboseau tinha sido iniciado por sua tia e a Ordem era aberta para homens e mulheres. Papus era membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada e de outras Ordens que tinham ligações com os movimentos Rosacruz e Gnóstico. Ele foi estudante de Kabbalah, Tarot, Alquimia, Números e dos escritos de Eliphas Levi. Gradualmente, seu trabalho focou na importância da simplicidade e da purificação do corpo, alma e mente. Ele morreu enquanto servia como médico nas trincheiras da primeira Grande Guerra.
Charles Detre sucedeu Papus como Grande Mestre, na França, em 1916. Surgiram disputas e desacordos sobre autorização, sobre o papel das mulheres e sobre requisitos maçônicos para afiliação. Embora o movimento tenha se espalhado por toda a Europa e para os Estados Unidos da América, mais uma vez, uma fragmentação ocorreu. Os martinistas britânicos romperam com os franceses no começo do século XX. Na América, o martinismo de desenvolveu dentro do movimento Rosacruz da AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis) como uma Ordem aberta apenas para seus membros de alto grau.
O movimento martinista contemporâneo não possui um órgão de gestão abrangente. Ele é formado por uma série de Ordens, Sociedades e grupos, separados e independentes. Todos são baseados no trabalho e na filosofia de Saint-Martin e, em diferentes graus, na filosofia de Pasqually. Todos se focam no conceito da origem divina do homem e da importância dele recuperar este estado através de orientação espiritual, iluminação e trabalho e estudo pessoais. Cada um deles tem sua própria interpretação e enfoque a respeito dos meios para alcançar isto.
A Ordem Martinista Britânica (BMO – British Martinist Order) foi fundada por um grupo de martinistas em 1991 com o Irmão John Fox (Penmedio) como Grande Mestre e Gary Stewart (Takla) como Soberano Grande Mestre. Penmedio foi sucedido após sua transição em 2001, por Fraigeria (2001 – 2013). Ela foi seguida por Cephas (2013 – 2019) e pela atual Grão-Mestra, Cymria (2019 - dias atuais) .
A afiliação iniciática da Ordem continua a tradição estabelecida por Louis-Claude de Saint-Martin e desenvolvida por Papus. Ele inclui uma linha através da tradição Rosacruz e ligações para a linhagem russa.